quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Está quase...



Ora viva!!!

Tudo bem desse lado? Sinceramente não quero mesmo saber, mas achei que era simpático começar assim…

Estava aqui a falar com os meus botões (mas só com os de cima, que os de baixo são marotos…) e lembrámo-nos de que tínhamos um blog e que já não escrevíamos há algum tempo. 2 meses segundo a nossa Patrícia Cerqueira (desculpe chefinha)!

Isso é que deve ter sido para aí uma festança sem aqui o Zé Manel a melgar, hã? Aposto que até mataram porcos e sacrificaram galinhas para comemorar seus malandros! Pois bem, como tudo o que é bom passa rápido, estou de volta! Pimba! Agora aturam-me!

Vá… Na verdade nem era para escrever mais, apesar das constantes ameaças da Rita Russo (que como se sabe é das Amoreiras e como tal todo o cuidado é pouco), a preguiça era mais forte e depois chegou a um ponto em que já tinha acontecido tanta coisa que já nem sabia por onde começar…
Vou então relatar a minha última viagem pelo mato de Moçambique, uma vez que a minha memória de peixe rejeita informação armazenada há mais de 16 dias e assim é uma forma de me lembrar do que andei por a fazer pelas terras do “uncle Sam” (calma… não estou nos states! Este tio tem menos barba, é um pouco mais escuro e o Sam vem de Samora Machel). Preparem-se para mais um “open book” que isto 10 dias em Moçambique dá para acontecer muita coisa…

Desde já, sim, gostam tanto de mim cá na empresa que voltaram a mandar-me 10 dias para o mato… A viagem desta vez consistiu em visitar duas províncias, Sofala e Zambézia, total de vilas, 5, quilómetros, 6.000 numa Mahindra (uma pick up de origem indiana e que ao que parece é uma qualquer junção  de várias peças de outros fabricantes).

Saí num Domingo, meio ensonado devido à hora (5h30) e ao facto de me ter deitado tarde a fazer um trabalho para a AICEP e a espreitar o jogo do Porto. Fui com o meu colega Hugo que me ia deixar em Mapinhane para depois seguir viagem com o Milton (outro colega) até à Inchope.
A viagem de mais de 650 kms (é pequenino o país, não é?) revelou-se bastante mais curta que o previsto, uma vez que ao fim de apenas 200 kms a Isuzu (é outra marca de carros, também não sabem nada vocês…) onde íamos começou a verter óleo. Ficámos parados em Xai-Xai, o que não é mau de todo tendo em conta que tínhamos a praia mesmo ao lado.

Tivemos que procurar um mecânico, num Domingo, numa cidade quase deserta… Lá encontramos um rapaz cujo pai era mecânico, mas que também ele possuía umas luzes de dar com martelos em chapa. O rapaz e o pai lá conseguiram dar um jeito ao bólide de modo a que ele fizesse a viagem de volta para Maputo. Levar-me a Mapinhane estava já fora de hipótese pelo que o desgraçado do Milton teve de fazer todos os 400 kms para trás enquanto eu e o Hugo nos banhávamos e almoçávamos na paradisíaca praia de Xai-Xai.

Chegado o Milton, tivemos apenas tempo de trocar as coisas de um carro para o outro, comer qualquer coisa e arrancar para cima o mais a Norte possível dada a já escassez de tempo. Tomei então as rédeas do bicho e seguimos viagem. Conduzir na estrada Nacional 1 de Moçambique à noite, é uma aventura digna de um qualquer Indiana Jones ou Lara Croft. Desde pessoas a circularem na beira da estrada se não mesmo no meio da faixa de rodagem, que nem kamikazes nipónicos a tentarem uma operação suicida, e que pura e simplesmente não se veem (que bela chance que tinha agora para meter aqui uma a roçar o humor negro, hã?), a carros que vêm de frente sem luzes, apenas com um médio ou com os dois máximos numa estrada sem qualquer tipo de sinalização ou iluminação, passando por camionistas que possuem um qualquer sentimento de superioridade que lhes permite ocupar as duas faixas de rodagem, culminando nos habituais polícias que procuram todas as formas possíveis e imaginárias de obterem um pequeno “refresco”, há toda uma panóplia de eventos que afastam o sono e fazem-me pensar no que aconteceria em caso de acidente, uma vez que as únicas ambulâncias que vejo são aquelas que acompanham o Guebuza (El President) quando o menino decide ir ao pão ou assim. De salientar, nesta altura a Mahindra fazia um barulho estranho nas rodas da frente.
Ao fim de muito custo lá chegámos à bela localidade de Massinga onde pernoitámos e comemos qualquer coisa pois no dia seguir tínhamos de sair às 5h para nos encontrarmos com o Eng. Jemusse em Inchope. Senhor simpático este Jemusse, então se falasse era ainda mais agradável!
Assim que nos encontrámos com ele seguimos para Marromeu pois no dia seguinte fomos visitar as vilas de Maligapansi, Catulene e Chilóló (isto a nível de nomes estapafúrdios está forte!) que durante o tempo de chuvas as pessoas ficam 6 meses isoladas de todo e qualquer contacto com o exterior. Ainda hoje não consigo esquecer a cara do Jemusse a tentar segurar-se a toda e qualquer saliência que o carro tivesse enquanto cavalgávamos aquelas estradas em areia a 100 km/h com a carrinha a fugir por todo o lado.

A caminho de Maliganpansi surgiram duas histórias engraçadas, a primeira foi termos perdido o pneu suplente da carrinha. Don’t ask me how, pura e simplesmente saiu e foi à sua vida. Cá para mim estava tão farto da estrada sinuosa como o Jemusse. Chegados lá deparámo-nos com duas senhoras que nos pediram para levar duas crianças doentes para o Centro de Saúde mais próximo. Disse-lhes para subirem para a parte de trás da carrinha e lá as levei até Marromeu, a eles e a um outro oportunista que decidiu aproveitar a boleia para a “cidade”.
Passámos essa noite em Sena que no dia seguinte íamos visitar a impronunciável vila de Muziwangungune (santinho!). Quando andávamos à procura de quarto para ficar, o Milton sugeriu um quarto simpático com duas camas, ar-condicionado, quarto de banho privativo, mas rapidamente mudou de ideias assim que ao mexer numa das almofadas um pequeno rato decidiu saltar para cima de uma almofada e começar a correr pelo quarto. O empregado da pensão nem mexeu, como se aquilo fosse uma situação casual, e pouco tempo depois pergunta “ficam com este?”. Estranhamente, recusámos a pensão.

No dia seguinte rumámos para Nhamppazza com a Mahindra a fazer um barulho estranho no amortecedor do lado esquerdo e com as rodas traseiras a aquecer. As rodas aqueciam de tal forma que era possível ver a água que mandávamos a ferver e a esfumaçar (garanto que conseguia estrelar ali um ovo!). Chegando a Nhamappazza, deparei-me com uma cidade que não possuía electricidade. O quarto era iluminado com o auxílio de uma lanterna para campismo, tivemos de jantar à luz de uma vela (qualquer comentário homofóbico será banido, a pessoa em causa será perseguida e atacada) e fomos para uma festa local que tinham música e uma arca frigorífica alimentas com o auxílio de um gerador.

Ser o único branco numa festa moçambicana é como que uma bomba de oxigénio para a nossa auto-estima. Fui considerado quase como uma celebridade local! Os miúdos vinham ter comigo para brincar e ofereciam-me carne de ratazana (sim, eles caçam, vendem e comem carne de ratazana), conheci o Osvaldo que gostou tanto de mim que me oferecia de tudo até as raparigas locais e ainda deu para dar uns passos de uma dança que não consigo voltar a repetir. Este Osvaldo era, de facto, uma pessoa muito carente pois para além de gostar demasiado de tocar, perseguia as mulheres locais com uma nota de 50 meticais ao que elas respondiam “não tenhas dinheiro que chegue para mim!”. O preço era de 100 meticais, pouco mais de 2,50 euros…

No dia seguinte decidimos passar num mecânico para ver o que se passava com as rodas traseiras. A caminho do mecânico descobri as potencialidades de se ter uma Mahindra em Moçambique. Ia sossegadinho na estrada a estranhar o facto de ainda nenhuma brigada da polícia de trânsito nos ter mandado parar, quando subitamente vejo um militar, que estava sentado numa cadeira à beira da estrada, a levantar-se e saudar-nos com uma continência. Claro, que uma pessoa como eu está habituada a todo este tipo de regalias, mas mesmo assim decidi arriscar na pergunta: “Oh Milton, porque é aquele senhor militar tão simpático nos saudou de forma tão cortês e oficial?” (é possível que a pergunta tenha sido mais do género: “Oh meu cabr** porque é que aquele merd** daquele feijão-verde se levantou quando nós passámos?”), ao que ele me explicou que aquele tipo de carrinhas é muito utilizada pelos chefes de polícia e pelo estado Moçambicano. Lindo, pensei eu, isto é que vai ser sempre assapar e roubar bancos com o aval do Estado!

Lá remediamos o problema do mecânico e fomos deixar o Eng. Jemusse para seguirmos para Quelimane onde nos íamos encontrar com o Eng. Semente. Chegámos a Quelimane no dia da paz moçambicana (neste dia celebra-se a assinatura do acordo de paz que findou a guerra entre a Frelimo e a Renamo, que dividiu e arrastou o país para uma guerra de mais de 16 anos) e de imediato encontramos o Sr. Dhakama (líder da Renamo) que tinha anunciado que a paz ia acabar e que a guerra iria voltar (mas ao que parece já ninguém o leva a sério). No dia a seguir fomos visitar a vila de Milevane e, a caminho, parámos num acampamento de padres que gentilmente nos ofereceram o pequeno-almoço e indicaram-nos qual o melhor caminho.

A vila de Milevane situa-se a mais de 1000 metros de altitude (sim, em Moçambique há montanhas que fazem a Serra da Estrela ficar corada), é um complexo de freiras totalmente autónomo e onde albergam e ensinam cerca de 250 crianças. Havia lá de tudo, desde leite, queijo e manteiga feitos através das cabras Sul-Africanas/Moçambicanas que por lá existiam, tinham porcos, galinhas, produziam óleo de girassol, tinham água limpa e potável (coisa rara por cá) que descia da montanha, fruta do mais invulgar que já vi, etc… A irmã Rocio, espanhola a viver em Moçambique há 5 anos, mas que já tinha vivido em Angola por 11, mostrou-se bastante amistosa e calorosa e demorou apenas 5 horas (!!!) a mostrar-nos tudo aquilo que a vila tinha para oferecer. Ao longe na montanha podiam-se ver vários fogos que, segundo a própria, os locais ateavam à procura por vezes de um simples rato que conseguissem apanhar e vender à beira da estrada. De positivo o almoço e o lanche 100% “caseiro” que nos foi oferecido. Fomos dormir a Mocuba que no dia seguinte tínhamos de viajar cedo até à última vila de todas, Mulela no Distrito de Pebane.

Acordámos, tomámos o pequeno-almoço e o Sr. Eng. Semente informa-me que afinal a vila que íamos visitar tinha sido alterada por outra (uma constante nestas minhas viagens com elementos do FUNAE). Ainda tentei argumentar que isso não era concebível e que o plano traçado era para ser cumprido, mas tal como o país, vivi ali uma democracia “ditaduresca” em que podes dizer o que quiseres que as decisões estão tomadas. O novo destino seria então a vila de Ndabuenda (Santinho outra vez! É melhor agasalharem-se que isso deve ser uma virose qualquer que para aí anda…)
Percorremos então os mais de 300 kms até à vila. Chegados lá deparei-me com a vila mais supersticiosa de todas. Desde logo a começar com a Rainha da vila, que tinha conseguido este posto após ter lutado com a irmã que se tinha transformado em hipopótamo (não se riam que os locais acreditam mesmo nisto!!), depois conheci um pastor de uma seita religiosa que só me deixava entrar em sua casa pela porta das traseiras, uma vez que não era digno de entrar pela porta principal e a população que dispunha as suas casas o mais perto possível da casa da Rainha na esperança que esta as protegesse.

Esta vila tinha realmente algo de mágico; a paisagem misturava-se entre o piso composto por uma espécie de barro muito solto que quando levantava formava uma névoa avermelhada no ar, conferindo-lhe uma cor única e calorosa com uma imponente montanha que se avistava ao longe como que a guardar a vila. As próprias crianças eram diferentes, por norma, as crianças sempre que vêm o carro a chegar aproximam-se e sorriem, mas quando saímos do carro elas fogem, fruto das muitas histórias que os aldeões contam acerca do homem branco mau, que remontam aos tempos do colonialismo. Estas crianças eram diferentes, aproximavam-se de nós, cumprimentavam-nos, falavam connosco, pediam-me para lhes tirar fotos e até houve uma que me teve a mostrar a guitarra que tinha feito e que curiosamente tocava! Com grande pena minha, tivemos de vir embora demasiado cedo, mas guardarei para sempre na memória aquela vila e a partida com os miúdos todos a correrem atrás da carrinha a acenar e a dizer “tttccchchhaaauuuu!”

A dormida nessa noite voltou a ser na bela cidade de Quelimane, a quarta maior do país onde quase não existem, táxis, tchopelas e chapas. O transporte é feito de bicicleta… por momentos pensei que estava na China ou na India tal era o número de ciclo-taxistas (não sei se isto existe, mas gostei do termo e agora fica!) que tornava o conduzir numa tarefa mais difícil que convencer o Passos Coelho a baixar os impostos…

A manhã seguinte foi a de pela terceira vez procurar um mecânico que nos tentasse resolver o raio da roda que não parava de aquecer e procurar um pneu e uma jante suplente para fazermos os mais de 1600 kms que tínhamos pela frente. Lá nos conseguimos desenrascar e seguimos a viagem de dois dias rumo a Maputo (nesta altura já só imaginava a minha caminha no meu belo T3).
A viagem de dois dias correu de forma mais ou menos normal, comprámos uma série de mercadorias que eram vendidas à beira da estrada, vi a quantidade de formas que o pessoal arranja para vender a carne de ratazana, de gazela, javali ou de galinha, enfrentámos todo o tipo de animais que decidem atravessar a estrada sem olhar para os dois lados da estradas, inclusive pessoas e ainda demos boleia a dois policias que nos mandaram parar para que os pudéssemos levar juntamente com um prisioneiro. Mandámo-los para a parte de trás da carrinha e quando perguntámos o que tinha feito o rapaz de mal, responderam “violou uma menor” (pois… eu sei…).

Dormimos em Massinga e no dia seguinte chegámos finalmente a Maputo por volta das 20h, mas sem antes nos banharmos na bela praia da Baía dos Cocos perto do Tofo (se querem ver um Moçambicano feliz, é darem-lhe um mar com onda). Para trás ficou muito pó, horas mal dormidas e mais uma aventura.

Por Maputo as coisas têm corrido dentro da “normalidade”… Fomos a um espectáculo de magia onde o protagonismo vai para o David que fez de assistente com uma performance capaz de fazer corar a Belle Dominique e onde a Marina demonstrou toda a sua arte e perícia ao partir o copo, na primeira vez que lhe pegou, que o David tinha ganho como prenda pela sua prestação.
Fomos à paradisíaca ilha de Bazaruto, onde para além de uma corrida a descer um duna que o Charles perdeu (é possível que não, mas eu é que estou a contar a história), viajámos num barquinho à vela com ondas capazes de virar o Titanic, mas com as quais não me preocupei muito já que o nosso comandante ia a descascar batatas com uma catana enquanto tentava manter o barco direito, no último fim-de-semana fomos ao Kruger Park fazer um safari onde vi uma série de bicharada e inclusive um leopardo a caçar que os mais cépticos continuam a não acreditar e fomos a Durban que é uma espécie de Miami africana e onde não me importava de ter uma casinha à beira-mar.

De resto continua tudo na mesma, as meninas que moram na Maguiuana arranjam todo e qualquer motivo para fazer festas lá em casa (acho que a próxima festa temática é a celebração dos 126 dias de libertação do povo de Mihugaefican), o João Vieira continua a fazer um Inov à parte da malta, em parte porque ninguém gosta dele, o André lá voltou da sua viagem de 2 meses também pelo mato, o Charles, bem… continua o Charles, o Venes, o Luciano, o Cardoso e o David continuam com uma relação demasiado próxima com a cerveja local (eu não, juro!!), as meninas do T4 (Romina e Sónia) continuam a fazer as vontadinhas todas ao David assim como a Patrícia e a Marina fazem tudo o que a besta do Luciano pede, o Luís e o Daniel continuam perdidos ela Matola e continuo à espera do convite para a churrascada, o Jaime voltou para Portugal de castigo por não ter lavado a loiça lá de casa e foi substituído pelo Ricardo e o Mário se não se põe a jeito leva porrada porque já é a segunda vez que chego a casa e não tenho uma recepção que envolva mulheres nuas e barris de cerveja.

Não garanto que continue a escrever muito mais (tenho já outro post em mente mas não sei ainda se publique se não), em parte porque recebi uma proposta para pôr tudo isto num livro intitulado “gajo que escreve estupidamente mal, mas que no entanto as pessoas continuam a ler e a fingir interesse” (é mentira, fui convidado sim, mas para ir para um circo dançar a Macarena apenas com uma tanga tigresa, enquanto um macaco me dá pauladas na cabeça, estou reticente… não gosto muito da cor da tanga). Os outros dois motivos que me levam a não continuar esta minha diarreia literária devem-se aquela patologia de que sofro e quem tem piorado com o passar dos tempos chamada de preguiça e também porque a partir de Outubro abandonarei Moçambique rumo a África do Sul para umas merecidas férias de 15 dias. Talvez depois faça um post sobre Cape Town. Ou então tiro só fotos para todos ficarem verdes de inveja! ;)

Infelizmente o meu tempo por cá está quase a terminar. Posso dizer que levo daqui muitas histórias, amigos para a vida e um país que certamente contarei visitar ou até habitar. De facto estar longe de tudo não é fácil, mas o facto de nos apoiarmos muito todos uns nos outros foi, e tem sido, uma enorme mais valia.
 Já sinto alguma nostalgia daquilo que cá vou deixar, mas a vida é assim mesmo e os momentos que ficam são para ser vividos, celebrados e para sempre recordados.

Ok, chega de mariquices, até porque ainda falta um mesito.

Até breve! Estamos juntos!!!

PS – Era mesmo para colocar fotos!! Eu tirei!! Não foram mais que duas mas tirei, só que não sei o que fiz à minha máquina fotográfica… Se a encontrar actualizo o post.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ainda por cá?


Para ver se não acontece como da outra vez e deixo acumular tudo correndo o risco de me esquecer de metade, decidi voltar à táctica do actualizar isto semanalmente…

A semana passada acabou com um jantar com o Sr. Presidente da República de Moçambique no salão de conferências hotel Indy, o mesmo local que serviu de comemoração no dia 10 de Junho relativo às comemorações do dia de Portugal e também de recepção à chegada do tio Cavaco. Claro está, que desta vez não se comia de pé, não tive de estar 1h30 à espera a olhar para a comida e a sala não estava tão “negra” (um bocadinho de humor negro também não magoa).

Ao invés fui recebido logo antes de entrar na sala por 5 meninas muito “simpáticas” que me perguntaram cinco vezes se estava para o jantar (eu também estranhei lá estar, mas bastava uma perguntar, não?) ao som de banda de precursão moçambicana, de seguida acompanharam-me para o salão onde desta vez existia um enorme número de mesas disponíveis (isto do comer de pé é para os tugas, está visto) e inclusive deixaram-me escolher onde me queria sentar e tudo! Estava a começar a pôr-me à vontade (já tinha tirado os sapatos e posto os pés em cima da mesa) quando nos pedem para nos levantar pois ia dar entrada na sala o gajo (o Guebuza, o Presidente, aquele que manda nisto).
Discursos do costume, entrega de prémios (curiosamente a entrega do prémio para o trabalhador do ano foi para a mesma senhora que ganhou as últimas edições e que segundo os pessoal cá da empresa é uma incompetente do pior), vídeos a dizer que o FUNAE é que é bom e tal e coiso e seguiu-se a paparoca com música ao vivo. Gostei, deu para comer, beber e o resto da noite rolou pelo CFM (nunca lá tinha ido….) onde deu para tirar umas fotos com a máquina da Virgínia que não interessam para nada, mesmo!

Sábado, esse rapazola que se dá pelo nome de Charles Monteiro decidiu alugar 3 txopelas (como estou um bocado farto de ter de explicar o que são txopelas, vou colocar aí uma imagem de uma) para a malta andar aí a zaguear e a espalhar o caos pelas estradas de Maputo. Boa Charlitos! ;)
Deu para passear um bocado, fazer de guia turístico ao Luís e à sua mais que tudo mostrando-lhes a zona da marginal e culminámos o trajecto no mercado do peixe onde iríamos almoçar. O mercado do peixe é, como aliás o próprio nome indica, um mercado. E o que é que vende? O quê?..................................... Marisco!! Vá e peixe também…

 Imagem de uma Txopela em frente ao CFM (às tantas hoje ainda lá passo)

A particularidade deste sítio é a de se poder escolher o que se quer comer e levar para uns restaurantes que se encontram na parte de trás das barracas de venda que nos arranjam o almoço/jantar com acompanhamento e tudo. É preciso algum cuidado e saber negociar bem o preço do que se está a comprar. É preciso também algum cuidado com as balanças das senhoras para não acontecer como o outro que decidiu pesar um garrafão de água e achou estranho quando a balança marcou 18 quilos!!!

Claro que como boa moçambicana que é a D. Felismina (dona do estabelecimento) demorou cerca de 1h30 a preparar 2 quilos de camarão e meio quilo de ameijoas. E nós, como bons portugueses que somos decidimos acabar-lhe com o stock de cerveja. Ora toma que é para aprenderes!
Entretanto ainda deu para uma aula de dança com uns miúdos que para lá andavam, deu para tirar a “foto do INOV” (epá, evitam é dificil fazer melhor...), para tentar estragar o banquinho que o Venes comprou (tarefa ainda por realizar), comprar pulseiras e chegar à conclusão que sou o rapaz mais bonito de Maputo. Ok, estou a exagerar… Ninguém comprou pulseiras…

 Pergunta: é ou não é a foto do INOV???

Depois nisso pegámos nas txopelas e fomos devolvê-las ao dono. Já vos disse que estou em Moçambique? Terra onde tudo acontece? Pois bem, se não ficais vossas excelências a saber… O simples trajecto mercado do peixe – casa não podia ser feito sem nenhum sobressalto… Quando íamos no nosso caminho a txopela decidiu pura e simplesmente travar sozinha… Andava 10 metros e parava. Por vezes abusava e chegava aos 13 metros, mas voltava a bloquear. Ainda pensei que era pelo facto do Venes ir na parte trás e lhe ter pegado a alentejanice que a estava a cansar, mas não.
Tivemos de pegar em peso na nossa amiga, virá-la ao contrário e solucionar o problema. Não fossem os meus 13 anos como motorista profissional de txopelas e muito provavelmente ainda hoje estávamos em Sommerchield II e tentar por aquilo a andar!

Realmente se há coisa que vim para cá fazer foi um curso intensivo de mecânica automóvel. Já na nossa passagem pela África do Sul tivemos uma série de problemas com o carro que alugámos ao Francis e estranhamente eu é que tive de solucionar o problema… Ao que parece chamar nomes ao motor e mexer numa série de cabos à toa, resulta!

Lá conseguimos por aquilo a andar, levá-la até casa do Charles e fomos jantar, onde o Cardoso conseguiu a fantástica proeza de virar 14 vezes a mesma garrafa de vinho, sujar as calças da Romina e da Joana (namorada do Luís) e onde se percebeu que shot’s de Sambuca em jejum não combinam nem mesmo em altura de Ramadão.

A semana começou com feito histórico. Charles Monteiro (já estás a ter demasiado protagonismo neste post, não?) ao fim de 2 meses e meio em solo africano conseguiu vencer o seu primeiro jogo de futebol!! Claro que para tal contou com a ajuda de uma equipa espectacular que para além de não o deixar rematar à baliza ainda conseguia correr a tempo de apanhar os passes disparatados que ele costuma fazer. A euforia por ter ganho foi tanta, que houve direito a festa no Gil Vicente na Terça-feira com direito a uma banda de suricatas em tanga acompanhados à viola por dois ornitorrincos! Agora a sério, o Charles ganhou um jogo, mas esqueceu-se de pagar as jolas...
Terça-feira ficou marcada pelo regresso de mais pessoas que estranhamente continuam em querer visitar o pessoal que cá está. Continuo sem perceber como é que alguém consegue trocar Moçambique pelas belas praias da Baixa da Banheira, mas pronto… Adiante, chegou o namorado da Sónia (pobre rapariga que já não tinha unhas para roer) e também um casal amigo da Patrícia Lima.
Na Quarta, o Charles ficou tão contente por ter ganho o seu primeiro jogo que decidiu voltar a ser da minha equipa. Resultado final, nova vitória e lá tive que segurar nele antes que este decidisse perder a cabeça e gastar o salário todo em garrafas de Champagne…

Ontem (Quinta-feira) voltei à minha vida de V.I.P. (uma vez mais, continuo sem perceber como é que insistem num energúmeno como eu para participar neste tipo de eventos). Desta vez fui com o Jaime ao cocktail de apresentação do programa “Belas Manhãs” da cadeia de televisão Miramar. Apesar do cocktail ter sido à tarde, o programa passará de manhã e tem tudo para ser uma imitação do programa das manhãs da TVI com a diferença de que em vez de ter uma árvore de Natal histérica e uma senhora com a capacidade de berrar mais alto que as peixeiras no mercado do Bolhão a apresentar, este terá a Anabela, senhora já com mais de 30 anos de carreira com um aspecto bastante sóbrio e muito simpática por sinal. Confesso que contava ir para o cocktail fazer tudo menos dar entrevistas e falar de negócios de uma empresa que não é minha, mas infelizmente a ocasião obrigou a tal. Pelo menos deu para conhecer mais um casal de portugueses perdidos por Moçambique.

E pronto, cá está mais um post acabadinho de escrever. Agora vou mandar um mergulho que está a voltar o tempo bom e estou com calor! Não, não vou nada, vou acabar um relatório e vou continuar à espera do meu colega de trabalho Moçambicano que para variar demora 3 horas a almoçar. Acho que este é daqueles que ainda tem de caçar o almoço ou assim…

Estamos juntos!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Miss me? Não? Já estava à espera… Agora levam comigo à mesma e pronto. Aliás, eu não era para escrever nada mas a Rita continua a obrigar-me e esta malta das Amoreiras consegue ser muito persuasiva de punho fechado…

A última entrada no meu blog indica que já cá não vinha desde 13 de Julho, quando ainda estava pela zona da Zambézia, por isso se calhar está na hora de actualizar isto. Sim, preparem-se que vem aí mais um post gigante.

Ora, a minha viagem pela província até correu demasiado tranquila para quem esteve 13 dias perdido pelo meio do mato. Cheguei no dia 1 de Julho a Quelimane onde fui recebido pelo Eng. Francisco Semente e pelo nosso motorista Marizane (até hoje ainda não percebi se é nome próprio, se apelido).
A primeira impressão destes dois senhores não foi a melhor, o Semente com uma constituição física demasiado portentosa destacava-se no meio da multidão e o Marizane não lhe ficava atrás (se algum elefante se meter pelo caminho já sei que não vou ter grandes problemas, pensei eu). Contudo, a simpatia destes dois era directamente proporcional ao tamanho de ambos e levaram-me a uma pensão onde fizeram o caminho todo em silêncio apesar de todas as minhas tentativas de fazer “small talk”.
Instalei-me na pensão e decidi ir dar uma volta a pé a conhecer a cidade. Assim que chego ao centro da cidade senti-me como o Will Smith no filme “I am legend”, não se via vivalma na rua e ao fim de 20 minutos a pé já tinha visto a cidade de lés a lés. Dois factos engraçados sobre esta cidade são os transportes públicos que não passam de rapazes novos a pedalarem bicicletas de montanha onde as pessoas se sentam atrás e são transportadas pela módica quantia de 20 meticais (não chega a 1 euro) e uma alusão obsessiva ao Sporting. Desde Jardins infantis, ao clube local (Sporting Clube de Quelimane)passando pelo Take Away Sporting. Curiosamente a maioria dos carros tinham cachecóis do FC Porto.

À noite fui procurar um sítio para poder ver a filme do campeonato da europa. Encontrei um restaurante/bar chamado de Coconuts onde me sentei ao lado de um italiano que curiosamente festejava de forma demasiado efusiva os golos da Espanha… No nosso chitchat ele lá me contou a história da vida dele, já tinha viajado pelo mundo inteiro, já tinha trabalhado em todos os continentes (que inveja…), estava há 7 anos em Moçambique e que o país que menos tinha gostado tinha sido o Sudão onde esteve 5 dias à espera de um autocarro para poder sair do país.
No dia a seguir fui para as instalações do Ministério de Energia onde iria começar a trabalhar. O Semente parecia uma pessoa totalmente diferente, muito sorridente e simpático, não se em parte por o tema futebol ter ajudado se por estar lá a chefe dele. Ainda não eram 11h e já tinha tido 3 reuniões com as mais altas patentes do Ministério e já tinha atendido 127 telefonemas com as delegações de Maputo (assim é o estágio, diriam os INOV’s).

Lá saímos para o mato e descobri que o Marizane tinha sido baterista na igreja e que era adepto do Boavista (acho que nem em Portugal conheço nenhum boavisteiro…). Chegamos a Morrumbala e ficamos hospedados numa pensão. Voltam os banhos de água fria ou então com um balde de água aquecido em que tinha de usar a bela da caneca para me banhar… 13 dias nisto…
O resto dos dias foi similar à outra semana que tinha passado. Comi galinha várias vezes ao dia, confeccionada de todas as formas e feitios possíveis de imaginar, comi mais pó que uma criança a brincar na areia, o pessoal fica tão agradecido de cada vez que nós explicava-mos o propósito da nossa visita que matavam patos e cabritos e nos serviam como almoço.

Apanhamos aldeias de todos os tipos, umas que não eram mais que uma escola, outras que inexplicavelmente já estavam electrificadas, deparamo-nos com uma composta por antigos combatentes que nos contavam as histórias mais sombrias e tristes da altura da guerra. Vi insectos que nunca vi na vida, bâmbis, javalis, porcos selvagens, cães com fartura e curiosamente, não havia gatos! O que me fez desconfiar um pouco daquele pato que me serviram numa das vilas…

Devo referir que do muito pouco que ainda conheço de Moçambique a Zambézia foi até agora aquela que apresentava as paisagens mais bonitas… Uma vegetação densao mas rasteira era ocasionalmente acompanhada de magníficos gigantes rochedos que desbotavam no horizonte mostrando toda a sua imponência, como quem mostra quem é que manda ali… Assistir a isto numa estrada em terra batida ao som da bela Zahara (artista Sul-Africana) deu para finalmente absorver o verdadeiro espírito africano…

O Semente deu uma ajuda enorme das vezes que não estava ao telefone com uma das mil senhoras que tinha em cada vila e o Marizane conduzia com uma calma tal que por vezes até me irritava. E a viagem acabou com um sobressalto… Quando nos queríamos deslocar para uma das últimas vilas decidimos abastecer. Estávamos já a chegar quando acende uma luz amarela no carro. Ligamos para a sede e mandam-nos imediatamente para Quelimane para o carro ser visto. O caminho até Quelimane foi feito a 100 km/h durante 200 kms, 60 km/h durante 100 kms e os últimos 70 kms a 40 km/h (multados não íamos ser de certeza), até que mesmo à entrada de Quelimane o carro para. No dia seguinte descobrimos que nos tinham posto gasóleo misturado com água no depósito… Moçambique men!!! Moçambique!!!

Passei mais dois dias na magnifica e deserta cidade de Quelimane sem ter que fazer e cheguei a Maputo numa Sexta por volta da meia-noite mesmo a tempo de participar no aniversário do amigo Pedro Cardoso lá nas tasquitas perto de casa.

A semana seguinte foi a tentar recuperar o tempo perdido por Maputo e voltar a adaptar-me à “civilização” com as incursões aos espaços habituais CFM, Gil Vicente, Núcleo de Arte, Robsson, tudo locais de pandega e boémia ;)

No fim de semana seguinte fui com o Venes e o Mário até ao mercado do peixe onde tive, segundo palavras dos próprios, “a melhor tarde de Maputo”! Fomos até ao mercado do peixe que é um mercado onde podemos escolher o peixe ou o marisco e levar até umas tascas onde nos preparam o belo do repasto acompanhado com o que quisermos. Não é um sítio barato, mas pedimos ao senhor Jacques (condutor de Txopelas aconselhado pela AICEP) a ir connosco e a ajudar-nos a escolher uma vez que o preço que fazem aos locais não é o mesmo que fazem aos estrangeiros. Passamos uma tarde a comer camarão, ameijoas, a beber cerveja a ser interpolados por tudo o que era comerciantes de pulseiras e bugigangas. No final éramos homens renovados, felizes e obviamente tocados pelo que decidimos continuar a animação nos botecos (nome dado pelo Cardoso às tasquinhas lá atrás de casa). Entre vários amigos moçambicanos que fiz consegui, através do Venes versão fim-de-semana, )acreditem que há grandes diferenças) conduzir uma txopela… Prevejo grande futuro na arte da condução de txopelas para mim e para o Venes…

Na Quarta-feira tivemos mais uma sessão de comes e bebes com o Sr. Presidente da República Cavaco Silva e onde privámos com o Paulito Portas que não achou muita piada a uma boca que lhe mandei. O nosso presidente chegou atrasado, discursou e foi embora mais depressa que um alentejano quando ouve falar em trabalho… Sem ofensa Venes!

E o resto já não sei precisar a cronologia da coisa, mas um pouco mais do mesmo, trabalho, jantaradas volta e meia, aprendi a nunca mais voltar a dar o número a pessoal moçambicano que eles ligam mais vezes que o José Castelo Branco ao Alexandre Frota e tivemos algumas noitadas, não muitas mãe! Falar nisso, numa dessas noites fomos dançar kizomba ao Macaneta (sim, tive a dançar kizomba… medo…) e ao Club 21.

Tivemos ainda o jantar de despedida do nosso amigo André que vai andar 2 meses perdido pelo mato, mas que estou certo que vai adorar aquilo. Teve direito a vídeo feito pelo Luís e tudo! Depois se me lembrar posto isso no facebook. Força aí “meu puto!” ;) 

E pronto… Acho que foi isso e não me estou a lembrar de mais nada… hum.. Ah já disse que fui assaltado? Não? Pois bem… Fui… Por 14 capangas de metralhadora em riste que me encostaram a uma parede e…. Não, agora a sério um gajo com uma faca que me queria levar o telemóvel mas que após 14 segundos de negociação ficou-se por 100 meticais. Soube mais tarde que tentou a mesma proeza com um islâmico mas esqueceu-se de olhar para trás e reparar que não ia sozinho e que iam mais 7 islâmicos a acompanhá-lo… Conclusão, levou um excerto de porrada daqueles valentes em que se vai parar a valetas e tudo e foi preso… Entretanto e não contente com a situação, poucos dias depois eu e o Luciano fomos abordados por 8 rapazolas também peritos na arte do extorquir dinheiro mas a coisa resolveu-se quando apareceu um rapaz demasiado grande a serenar as coisas. Ainda fiquei amigo de dois deles…

Entretanto o pessoal foi visitar a Swazilândia mas eu n fui e diz que aquilo só presta para comer bifes. Não indo à Swazi, poupei alguns trocos para ir a África do Sul, mais especificamente Graskop, pouco depois de Nelspurit. O objectivo da viagem era ir a Nelspurit (que é uma cidade que mais parece um retail park gigante cheia de shoppings e lojas) às compras que é mais barato. Mas aproveitamos para conhecer a zona montanhosa ao redor da cidade composta por várias quedas de água como as Lisbon falls ou as Berlin falls, por uma composição montanhosa denominada de God’s Window que parece mesmo uma janela feita por Deus e que por sorte tinha a cortina (nevoeiro) aberta, fomos ainda ver as three rondavels que são três montanhas que supostamente possuem as feições de três mulheres mas que infelizmente não conseguimos ver bem por causa do intenso nevoeiro… Deu, contudo, para tirar umas boas fotos ao pessoal empoleirado em penhascos, que deu para assustar as raparigas. Fomos ainda conhecer os Pot Holes onde o pessoal andou durante quase 3 horas a andar a pé por entre rochas e riachos. É um passeio magnífico que aconselho a quem passar por esta zona da África Austral.

Entretanto passou mais uma semana, sendo esta um pouco mais pacata que o dinheiro e a saúde também exigem repouso.

Acho que tinha mais qualquer coisa para contar, mas não me lembro de mais e isto também já está a ficar comprido.

Logo vou jantar com o senhor Presidente da República de Moçambique Dr. Armando Guebuza e prevê-se que vou apanhar uma daquelas secas valentes.

Prometo que vou colocar aqui fotos um dia destes! Anda por aí um disco externo a rodar de casa em casa com as fotos tuas e depois eu coloco isso tudo!!

Um beijo, um abraço e um queijo da serra!

Estamos juntos, que aliás, é quando estamos melhor! ;)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sim Rita, eu sei que já passaram duas Sextas e ainda não actualizei o blog, mas diz que isto de andar perdido pelo meio do mato de Moçambique tem alguns inconvenientes sendo um dos quais o não haver acesso à internet!

Adiante, tive a minha primeira semana no mato à Indiana Jones mas em vez de chicote tinha uma navalha e uma bussola… Objectivo da viagem, visitar as vilas de Chiputo, Zâmbuè e Tonguè. Não, não estou a tirar bocados de massa de uma sopa de letras e a misturá-las a tentar criar nomes, as vilas chamam-se mesmo assim!
Parti numa Segunda-Feira onde às 5h30 já estava em grande forma, depois do fim-de-semana mal dormido na Ilha da Inhaca (sobre o fim-de semana em Inhaca não vou falar, se quiserem perguntem a quem lá esteve), no aeroporto internacional de Maputo para apanhar o meu voo com destino a Tete.
O aeroporto, curiosamente, já não me pareceu tão mau desta vez. Parecia uma coisa muito mais organizada e até conseguiu reparar que estão a construir uma ala nova. Claro que tinham de ser os chineses a construir e claro que que já lá estão duas torres com todo o aspecto oriental. Até as placas de segurança estão escritas em Mandarim o que deve ser de bastante utilidade para os trabalhadores moçambicanos. Há quem lhe chamam de globalização, eu prefiro o termo “conquista territorial”…
Cheguei a Tete por volta das 9h num voo em que o piloto tinha competências natas para as aterragens mas que tinha tanto jeito para as curvas como o Pedro Lami num F1. Estive cerca de 1 hora à espera das malas e é aí que encontro o Sr. Tomé, o motorista que me ia andar a conduzir durante os próximos 5 dias.
Do aeroporto fomos directos ao FUNAE ter com o Eng. Militão que também iria fazer as visitas connosco. Confesso que aqui tremi um bocadinho… É que não conseguia parar de associar o nome Militão ao outro que andou entre aqueles portugueses em Fortaleza, no Brasil. Ao que parece este não era nenhum visionário na arte da indústria cimenteira e do betão o que me tranquilizou. Após os cumprimentos formais seguimos viagem…
O primeiro destino era Fingoè onde iriamos pernoitar pois era a meio do caminho. Sim apesar de ter vindo de avião, ainda tinha mais de 500 kms pela frente em estradas onde eu não metia uma manada de vacas (que há várias) quanto mais a nossa 4x4.
Chegámos a Fingoè, depois de uma curta visita por Chiputo, já de noite e decidimos ir a uma barraquita de uma senhora comer qualquer coisa. Pedimos uma galinha com chima que demorou cerca de 2 horas e após muita pressão exercida da nossa parte (foram literalmente matar a galinha para nós).
Jantados, porcos e cansado deslocamo-nos para a pensão. Fiquei num quarto com casa de banho privativa e tudo! Luxo, penso eu hoje… Decidi tomar um banho mas reparo que o chuveiro apenas tinha uma torneira e não tinha água quente... Decido reportar este facto ao rapaz da pensão que olha para mim, ri-se e desaparece! Gajo porreiro, penso eu… Volta passados alguns minutos com um balde cheio de água quente e uma caneca. Ainda esperei que viesse um casal de arias para me banharem como no tempo da Roma antiga mas foi pura ilusão.
Entre deitar-me cheio de pó que se impregnava em cada poro do meu corpo ou o balde e a caneca com aspecto francamente duvidoso que no que a higiene diz respeito, optei pelo banho! Ah homem! Vou para me deitar e reparo que o lençol da cama mais parecia uma cena tirada do CSI onde não seria preciso a luz negra nem a lupa para encontrar as provas do crime. Por sorte, ou vá por aviso do pessoal antes da minha partida, tinha levado o meu próprio lençol, um saco cama e a minha rede mosquiteira.
No dia seguinte arrancámos em direcção à segunda vila. Fomos directos à chefe do posto administrativo (funciona como a chefe da vila) que não estava. Tentei então falar com a secretária dela onde estive 10 minutos com a senhora a acenar e a sorrir como se absorvesse cada palavra. No final pergunto se percebeu o que eu disse ao que ela me responde com um sorridonho “Não!” Não fosse o Militão a falar Chona (dialecto de Tete) e ainda estava lá hoje.
A visita correu dentro das normalidades com praticamente todos os habitantes e pedir-me para lhes instalar pelo menos uma lâmpada na barraca feita de palha. Tentei explicar que a coisa não era assim tão linear, mas este foi um processo claramente em vão.
A meio da tarde seguimos para Zumbu onde iriamos dormir. O caminho até Zumbu pura e simplesmente não existe… Penso que só por uma vez passámos os 40 km/h nos mais de 100 kms que fizemos. Ainda passámos por um camião que devido ao peso tinha conseguido a proeza de desabar uma ponte dos anos 60. Morreu uma criança que ia na parte de cima com a mãe.
Chegados a Zumbu somos recebidos pelo Sr. Vítor, dono da pensão, e claramente o R.P. lá da vila. Prontamente nos mostra a vila e todo o progresso que estava a ser alvo. Desde a maternidades, centros de saúde, enfermarias, jardins, grande parte da vila estava em construção com o sem que ninguém conhecesse a origem dos fundos que estavam ali a ser investidos. Devo referir que Zumbu fica na fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabué e que é usada como posto fronteiriço e de controlo migratório. É de resto uma visão lindíssima estar em Zumbu e ver o rio Zambeze a dividir duas montanhas sendo que de um lado corresponde à Zâmbia e do outro o Zimbabué e ver ainda o afluente deste mesmo rio a dividir Moçambique dos seus dois países vizinhos. Forma-se ali um delta tropical rochoso muito bonito. Eu sei, devia ter tirado fotos…
O Sr. Vítor estranha a minha forma de falar e desconfia que seja português (uma constante aliás desde que ando por Moçambique). Informa-nos ainda que há um leão que todos os dias às 16h da tarde passeia pela rua principal da aldeia o que me colocou logo num misto de perplexidade. Por um lado estranhava a enorme pontualidade do leão, por outro o facto de poder ter de viver de perto uma daquelas perseguições do National Geographic vista do lado da presa.
Jantamos um belo peixinho (Pembe) com chima (estou viciado nisto) e vou para o quarto por volta das 19h da noite. Mal abro a porta vejo uma osga grande e gorda a rastejar pela parede. Fome não ia claramente passar…
Ainda pensei tomar um banho rápido antes de adormecer, mas rapidamente me apercebi que o quão luxo era aquilo do quarto banho privativo e que para tomar banho teria que ir a um anexo que tinha uma simples parede demasiado baixa a servir de separação. Deixei o banho para de manhã, se é para andar nú à frente de toda a gente, ao menos que gente com luz para se ver bem.
Lá dormi eu com o meu amigo Lagarto (não confundir com o Pedro Lagartixo por favor) e arrancámos ainda de madrugada para Tonguè. No caminho decidimos ir por um atalho (o que aliás é uma excelente atitude quando se anda pelo meio do mato) que se dizia ser composto por leões e elefantes e que volta e meia alguns se lembravam de atacar os carros. Bámos (como diz o outro) lá então! É de adrenalina que o meu povo gosta!
Chegando ao destino… Nada, nem um bocadinho de marfim a perfurar o chassis da carrinha, nem uma cicatriz de mordidelazita de um felino para mais tarde contar aos netos, não vi nada de animais selvagens, quer dizer…Espera, vi um cão, estava na selva, ok, vi um cão selvagem!
Visitamos a vila e voltámos para Fingoè para pernoitar. Tentámos falar com uma senhora oriunda do Zimbabué que nos tinha servido o pequeno-almoço na manhã anterior na tentativa de nos arranjar algo para cear, mas em vão pois segundo a própria, já não tinha mais nenhuma galinha para matar (ai se ainda tivesse aquele lagarto à mão). Recorremos então ao outro que demorava duas horas a servir se bem que desta vez tentámos uma abordagem mais prudente; chegámos ao local às 18h30, pedimos uma galinha e dissemos para mandar um toque para o telemóvel quando tivesse pronta que iríamos estar pela pensão a descansar. Entretanto, chegam as 20h30 e a rede da Mcel (é tipo a TMN cá do sítio)tinha ido em vulgo português, com os cães. Tomámos então a sensata decisão de ir até ao restaurante na esperança que a dona já tivesse a trepar paredes desesperada por não nos conseguir ligar. Hum hum, puro engano… “Está quase!”, informa o marido da senhora. O “quase” durou até às 21h30 altura em que nos fartamos e rumamos aos quartos cheios de fome e com o orgulho ferido. No dia seguinte o Militão informa-me que tinha recebido uma mensagem com o seguinte texto “A comida está na mesa”. Eram 22h30, sim, 4 horas é o tempo de preparação de uma galinha naquele estabelecimento. Claramente não está a tentar concorrer para nenhuma estrela Michelin…
Na manhã seguinte deslocámo-nos para Tete onde iria ter de fazer alguma prospecção de mercado (e o que eu adoro fazer trabalho de comercial??). Fiquei na estalagem Zina Pipia que, apesar de não ser melhor que um qualquer motel situado na IC2, pareceu-me um verdadeiro Hotel Ritz. Claro que tomar banho também era usando a técnica da caneca, tinha mais mosquitos que uma fossa de céu aberto e os lençóis parecia que tinham sido usados e virados do avesso, mas fora isso tinha ar condicionado, TV com um canal bastante interessante onde estavam sempre a passar filmes e um restaurante que dava para petiscar qualquer coisa e até assistir ao Portugal x República Checa.
Obviamente que em Moçambique assistir a um simples jogo de futebol tem o seu quê de aventureiro. Chegada à hora do jogo a minha pessoa decide deslocar-se para o restaurante na tentativa de ver os miúdos a darem uns toques na bola. Sento-me ao balcão (sou tuga ou não sou?!?) e peço um prego no prato e um 2M (fino para o pessoal do Norte / Centro, imperial para aquela malta abaixo do Mondego com a mania que têm direito a uma cerveja especial). A dona dormia, como aliás o fazia à hora do almoço, pelo que tive de a acordar de forma delicada com um “OH FACHAVOR!!”.O café estava à pinha e curiosamente desta vez os moçambicanos até torciam pelos lusos. O pessoal bebia cerveja, comia e fazia despesa para a casa até que chega o intervalo.
Ainda estava eu a digerir aquelas bolas todas ao poste e a pensar pedir outro FINO quando a senhora dona do estabelecimento acorda e pergunta “já acabou?”. Expliquei-lhe que não que era intervalo e que ainda havia outra parte de 45 minutos. “Ahh” diz ela, “Vamos embora!”…Ficou o café todo perplexo a pensar como é que alguém era capaz de fazer uma coisa daquelas num jogo daqueles ainda por cima com a casa cheia e pessoas ainda a jantar. Tentámos motivá-la, alguns quase à força mas em vão.
Decido então não perder mais tempo com aquilo e frustrado, nervoso e irritado decido tentar arranjar outro poiso para ver o resto do jogo. Peço ao recepcionista para me chamar um táxi que me diz que aquela hora já não havia táxis. Por sorte estava um parado mesmo à porta da pensão que me leva a uma pastelaria muçulmana que, para não variar, não vendia álcool (acho que são alérgicos). Sento-me ao lado de um senhor também português mesmo a tempo de ver o golo do Ronaldo enquanto bebia uma angustiante Coca-Cola…
No dia seguinte tinha o avião para Maputo. Os comandantes obedecem ao bom estilo moçambicano e chegam 1 hora atrasados sem qualquer tipo de aviso. Entro no avião e ainda estava eu a pensar em que fazer durante 2 horas quando se sentam três indivíduos bastante animados ao meu lado. Conversa para aqui, conversa para ali chego à conclusão que estão bêbados… Esta foi uma conclusão que cheguei rapidamente quando a hospedeira os mandou calar três vezes e quando eles me decidiram pagar whiskeys… 137 avisos e depois de descobrir que afinal um deles até trabalhava com a minha empresa, aterramos em Maputo em que a primeira coisa que me vem à cabeça foi “Estou em Nova Yorque!”
Entretanto chego mesmo a tempo de ainda apanhar o pessoal que ia de fim-de-semana para o Tofo. Sobre o Tofo não há muito para dizer porque sinceramente não me lembro de muito. Sei que se criou um Irmandade de pessoal que arriscou a vida a ir à praia do Tofinho onde mais uma vez o João Vieira não esteve presente, que a Rita Russo diz que é campeã nacional de senhoras de Bridge (é assim, não é?) mas que no diz respeito à sueca e ao king não passa dos campeonatos regionais, que andam baleias brancas à solta pela praia do Tofo, afinal Moçambique tem praias com ondas, que as capacidades de organização e planeamento da Patrícia Lima continuam espectaculares, por falar na Patrícia Lima, é a única pessoa que conheço em que pomos o mp3 em modo aleatório e toca quase sempre a mesma música… Vá, tenho também que dar uma palavra de apreço à Romina que conseguiu arranjar uma carrinha para nos levar  que tinha impresso na traseira “Hell Boy” (não sei…); de salientar ainda o nosso entertarneir João Venes com a sua capacidade única de contar anedotas e de nos animar com cantares alentejanos e que o Dino morreu… Quem é o Dino? Não sei, mas há todo um bar dedicado à sua morte que eu e o Luís conseguimos reservar para os Inov’s que infelizmente preferiram ficar a jogar cartas… Não há respeito, nem pelo Dino… Já agora, foi muito bom ver o Luís e o Charles como dj’s de serviço, mas era melhor se alguém lhes cortasse o cabo de alimentação da mesa de mistura ou das colunas.
E pronto, não me alongo mais porque já sei que isto está muito grande e que o pessoal mal abre pensa que é grande e que lê depois e que eu sou uma besta e mais não sei quê. Agora estou por Quelimane onde passei mais 15 dias no mato, se bem que para isso dedico outro capítulo. Só espero chegar a Maputo e ainda lá estarem pessoas…

Estamos juntos!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Ainda por cá andamos...


Ora viva de novo! Tudo bem? Então e que tal essa semana? Agora a sério, se estão mesmo a responder a isto devem estar a fazer uma figura um tanto ou quanto ridícula, mas força! Peço só que filmem e que ponham no youtube.

Em primeiro lugar, evitam vir falar comigo, eu já sei que escrevo muito e que o pessoal cansa-se a ler. Mas não sei se já perceberam que isto são registos semanais, para eu depois me lembrar do que fiz durante a semana e como devem imaginar já acontecem demasiadas coisas num só dia quanto mais numa semana! Tá? Percebido? Se eu podia ser mais sintético e até ter mais algum trabalho, podia, mas há uma linha que divide aquilo que quero fazer e aquilo que não me apetece fazer… E esta é uma linha demasiado tendenciosa.

A ida à praia, como aliás tudo o que acontece neste país não poderia ter corrido sem um ou outro sobressalto. Decidimos alugar um carro e nesse aspecto há que dar valor à nossa Romina que conseguiu tratar de tudo! Não aconselho é andar de carro e tê-la como co-piloto, mas isso é outra história.

O ponto de partida ficou marcado para as 6h30. Claro que como pessoa correcta e responsável que sou decidi deitar-me às 5h30. Há quem diga que fui o último a chegar e que estiveram 30 minutos à minha espera, mas estou farto de tentar explicar e pode ser que agora se perceba melhor, que não tenho culpa de ter entrado uma manada de elefantes azuis ao colo de suricatas amestrados e que me tenham bloqueado a porta de saída do prédio! Ainda para mais, o meu telefone não gosta de tocar alto quando sabe que estou atrasado e a dormir e só por isso é que não consegui atender nenhuma chamada!

Pronto, agora que já me justifiquei, siga com a história. O ponto de encontro ficou marcado para as 6h30 e lá arrancamos nós em dois Toyota Corolas que por fora até pareciam ter bom aspecto. O destino seria Marracuene (a cerca de 30 kms de Maputo) onde de seguida apanharíamos um batelão e atravessaríamos para Macaneta (a praia). A viagem até lá correu bem, o Néné não levava cinto e teve de dar 100 paus a um polícia que segundo o próprio, precisava de almoçar, e nós fomos a ouvir o vasto reportório musical da Sónia.

Chegando a Marracuene informam-nos que o barquito estava avariado e que ainda demorava uma horita até a coisa voltar a funcionar. Decidimos ficar, até porque não tínhamos muito mais para fazer… A espera até se passou bem, estávamos rodeados de crianças com dotes espantosos como o de construir pequenos barcos ou carteiras através de uma folha oferecendo-os e dizendo “espero que ajude na tua viagem”, tínhamos também os típicos vendedores que acham sempre que sabem que o que nos faz falta quando vamos para a praia são adaptadores de tomadas.

Ao fim de uma hora de fotografias, palhaçadas, distribuição de bens alimentares, vulgo rebuçados, pelos mais pequenos e de uma tentativa de furto de um dos pequenos o barco fica bom! Isto em qualquer outro sítio do Mundo seria um alívio, mas devo relembrar que estou em Moçambique… Quando chega a nossa vez de subir para aquilo a que chamavam de barco mas que mais parecia uma jangada feita por um Tom Sawyer sob o efeito de estupefacientes, informam-nos que a entrada para o barco era demasiado elevada e que apenas os jipes podiam passar. Se podiam ter informado isso naquela hora que estivemos à espera? Podiam, mas não era a mesma coisa…

Decidimos então arrancar em direcção a Bilene que fica a cerca de 198 kms de Maputo. Isto eram 10h30, tínhamos Sol até às 16h e ainda eram mais de 2 horas de viagem. Uma atitude mais que sensata portanto!

Chegámos a Bilene por volta das 13h. Andamos às voltas à procura da praia e chegamos a um condomínio. Conhecemos logo o amigo Elias informa-nos que podíamos lá deixar os carros que ele ficava a tomar conta. Uma pessoa sente-se sempre segura quando sabe que tem um rapaz com cerca de 20 anos e 55 quilos de peso a tomar conta de dois carros…

Chegámos à praia e aí sim, finalmente percebi o porquê de tanta gente perder tanto tempo e fazer tantos quilómetros para ir a Bilene. Uma praia gigantesca, vazia, a areia mais branca que as paredes de um hospital psiquiátrico, e água parada, azul e límpida… Paradisíaco mesmo. Um barqueiro informa-nos que aquela era a parte apenas correspondente à lagoa e que se realmente quiséssemos conhecer a parte da praia teríamos que ir de barco. Tivemos relutantes para aceitar, mas o tempo já era curto e estava-se realmente bem ali. Sim, foi mesmo para meter nojo ;)

O resto do dia passou-se muito bem! Deu para jogar vólei, futebol e ocasionalmente uma mistura dos dois. Ainda conhecemos o Salazar com um jeito nato para esculpir figuras de madeira e que ainda nos personalizou um cinzeiro e um porta-chaves. Deu ainda para jogar dar uns toques com alguns locais que para lá andavam e descobrimos ainda o futuro pantera-negra da selecção (já estou a tratar do contrato).

Por volta das 16h e já todos rotos decidimos voltar para Maputo. Parámos em Manhiça para trincar qualquer coisa e voltar à estrada. Mas eis se não quando que um simpático senhor nos informa de que temos um pneu em baixo o que é óptimo para quem vinha a 130 km/h. Tiramos o pneu e pedimos lá a um rapaz se nos consegue remendar aquilo. Diz que sim e começa o serviço. O pneu tinha já sido remendado três vezes mas curiosamente o artista decidi apenas arranjar um deles. Claro que tivemos que ir até Maputo com um pneu a vazar por dois sítios, mas a pressa de levar o golo do Mario Gomez falava mais alto…

Um pequeno aparte, conduzir em Moçambique não é muito diferente de conduzir numa selva com antílopes a virem de frente, com a diferença que muito provavelmente os antílopes apercebem-se de que um embate de frente vai magoar um bocadinho… O conduzir à esquerda já não baralha muito, volta e meia ainda ligo o limpa pára-brisas em vez do pisca mas de resto tranquilo. O problema está mesmo com certos “animais” que não percebem que quando vem um carro de frente numa curva cerrada à noite, não é a melhor altura para ultrapassar… Estranho, eu sei, mas não é mesmo…
Claro que tudo isto é muito mais giro com as fotografias que o Charles e a Sónia disseram que arranjavam e que continuo à espera… Depois queixem-se quando virem um Land Rover preto na vossa direcção… Ainda assim podem ver algumas das fotos no meu facebook que o amigo Luís Pereira, "Matolas" para os amigos partilhou e eu roubei-lhas ;)

Chegamos a casa ainda a tempo de descobrir que a pontaria da selecção portuguesa está melhor que nunca, que o Postiga é provavelmente o jogador de futebol com a maior cunha da história, que o Miguel Veloso se não andasse sempre com o cardápio do Chimarrão na cabeça até era capaz de se tornar num jogador de futebol mediano e que o Paulo Bento tem mais medo dos alemães que o José Castelo Branco de casas de strip.

Depois do jogo e de ter perdido 50 paus a apostar naquela equipa, não consegui mais que adormecer com a mesma roupa com que fui para a praia.
O Domingo passou-se de forma tranquila. Acordámos cedo e fomos ao tanque de um hotel aqui perto (há quem lhe chame de piscina, mas eu continuo a achar que já vi senhoras a lavar a roupa em pias maiores) onde fiquei estupefacto com as qualidades técnicas de natação do Néné e da Bárbara! Não podem é tocar na água, mas de resto, nota 10! ;)

Ainda em relação à piscina, chegamos à conclusão de que a Rita Russo é a quebra-corações de Maputo… Dúvidas houvessem, deixo-vos com a mensagem do Celso, rapaz que teve o infortúnio de um dia servir uma imperial à Rita e de ser trespassado pela seta do cupido: 

“Oi bom dia Rita como estas de saúde?
Eu Celso estou bem.
Sabes Rita eu onte não apanhei sono em pessa em ti.
E eu difacto estou muito apajonado por ti Rita.
E tu não estas apajonada por mi.
Por favor Rita estou apdir namora comigo.”

Sinceramente Rita acho que estás a ser muito intransigente com o rapaz.. Ok, tudo bem que não interagiste mais que 10 minutos com o rapaz, mas alguém com uma qualidade literária suficiente para fazer lembrar um qualquer Camões cego dos dois olhos, merece no mínimo que tomes um descafeinado com ele.
Adiante, na parte da tarde fomos até à escola portuguesa comemorar o Dia de Camões e dos países da CPLP (sim, estou feito um emigrante autêntico). A festa correu bem, havia comes e bebes (optámos mais pelos bebes) e ainda deu para ver lá uma barraca dedicada à Académica. Deu também para saltar do telhado da escola numa suposta actividade radical para crianças mas que tinha todas as condições de segurança necessárias para encher a ala de traumatologia do pediátrico cá do sítio. Ah!! Mas calma, que estavam lá os bombeiros e o Charles para captar o momento mas apenas 35 minutos depois… O momento épico e que deve constar nos anais da nossa história (sempre adorei esta expressão) aqui por Maputo é mesmo o traje do André, que se conseguiu indumentar como um verdadeiro Moçambicano!


O resto da tarde até tinha sido animada, não tivesse eu uma reunião às 17h. O resto da tarde/noite rolou mais uma vez pelo Núcleo de Arte que como diria o meu amigo Mário, “estou lá titular todos os Domingos!”.
Na Segunda tivemos o jantar da comemoração do 10 de Junho que no entanto ficou para o dia 11 (cenas deles…), onde fomos convidados pelo Sr. Embaixador e respectiva esposa a estar presentes. Posso dizer sem pensar muito que se houvesse algum prémio a atribuir às pessoas que claramente não sabem vestir para um evento formal nós ganharíamos de longe… De resto foi bom, comes e bebes oferecidos, havendo uma clara aposta nos bebes…

 
Na terça tive doente e continuo a achar que foi tudo um complô organizado pela minha carteira para não me deixar ir ao karaoke ao Gil Vicente. O que interessa é que os Inov’s forem bem representados pela Sonie e pela Romina que pelo que sei deram um verdadeiro espectáculo em palco… Ainda por aí um vídeo, mas curiosamente este tipo de vídeos nunca vêm a público…

Quarta fomos ver o jogo da selecção ao Parque dos Continuadores. Havia um projector, pessoas, um comentador que era claramente adepto da selecção portuguesa mas que percebia tanto de futebol como eu de óleo para fritar atum campestre e curiosamente havia uma grande falange de apoio à selecção dinamarquesa composta unicamente por moçambicanos, que festejavam os golos com mais afinco que os próprios nórdicos que estavam ao meu lado (quero acreditar que no fundo apenas estavam confusos por Portugal jogar de branco). Já agora, eu sei que é estranho, mas conheci dinamarqueses em Maputo… O que também é estranho e me continua a fazer séria confusão foi aquele golo do Postiga. Até hoje ninguém me tira da cabeça que ele chutou a bola porque viu um alemão atrás dele e teve medo que ele lhe roubasse a bola de brincar…

Na Quinta houve mais uma futebolada com mais um massacre da minha equipa (uma vez mais, evitam, a história é minha). Também foi engraçado vêr o Rangel mandar a bola do Luciano para o Oceano Indico numa clara tentativa de aproximação do futebol aos tubarões… Deve ser da febre do Euro.

Ora esta semana já chega que já têm muito para ler e eu tenho que ir trabalhar. Amanhã vamos para a ilha da Inhaca passar o fim-de-semana e depois esperam-me 4 dias sozinho em Tete onde conto fazer luta-livre contra mambas e rinocerontes e onde espero participar no torneio regional de sueca selvagem.

Já agora gostaria também de partilhar os outros blogs desta malta que também se perdeu por aqui por Maputo comigo. Penso que existem mais, mas este são aqueles que me lembro para já.

Daniel Vaz -http://linhassoltasdodaniel.blogspot.com/
Mário Martins -http://molungo12.blogspot.com/
Sónia Carvalho - www.enikselom.blogspot.com

Estamos juntos!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Mais uma semana...


Fico estupefacto com a quantidade de pessoas que me congratula por esta minha diarreia literária… Vá também tirando a minha mãe e a minha avó a única pessoa que lê isto é o guarda ali do prédio e é só porque lhe dou 10 meticais para o bolso. Mas mesmo assim, o facto de virem falar comigo significa que pelo menos tenho chateado o suficiente no facebook e isso deixa-me feliz, pois eu sou uma pessoa que chateia, que tem prazer na arte do chatear e que planeia a longo prazo ser o maior chateador de Santo António dos Olivais e quiçá arredores!

Depois da aventura pelo mato a semana passada até acabou bem, supostamente tinha o dia livre de Sexta, mas decidi vir trabalhar da parte da tarde. Sou assim…

A Sexta-feira acordou com uma ameaça de greve. As manifestações aqui estão longe dos cravos utilizados no 25 de Abril em Portugal. Em 2010, por exemplo, morreram mais de 20 pessoas numa manifestação e a cidade esteve isolada durante 4 dias. Com isto em mente, decido-me aventurar a pé pela cidade com o portátil a tira-colo. 

Não havia quaisquer sinais de grandes tumultos, exceptuando umas sirenes passageiras aqui e ali. Chego à empresa e informam-me que a greve tinha sido adiada para Segunda ou Terça devido ao dia da criança. Matar pessoas está bem, desde que não estrague a festa aos putos!
Estavam então lançados os dados para mais um fim-de-semana de folia com a inauguração da casa do David, Sónia, Romina e Rafael seguido de uma noite de danças de salão. Fui claramente ao engano… Continuo à espera de um convite para ir às restantes casas, pois isto de uma pessoa entrar sempre à força não fica nada bem. Enfim, estou a ver que também já há aquele grupinho que exclui o Jpzinho de visitar casas…

Ainda no fim-de-semana e para se compreender melhor como funcionam por aqui os polícias, num passeiozinho a pé até ao CFM (já falei sobre o CFM uma vez, não vou falar outra), conseguimos ser mandados parar três vezes, por três patrulhas diferentes na mesma rua e a pé! Devo referir que a rua não chega a ter 200 metros de comprimento e que há terceira vez a nossa paciência já não era das melhores…

O fim-de-semana acabou com uma ida ao Núcleo de Arte que como o João Vieira diria 439 vezes, “ESTE É O MELHOR SPOT QUE JÁ TIVE EM MAPUTO!!!!” Já ouvimos João…
O Núcleo de Arte é de facto um sítio muito bom para se passar o final do dia de Domingo. É um espaço cultural repleto de quadros e esculturas, algumas verdadeiramente impressionantes, onde podemos interagir com os artistas enquanto se bebe uma cervejinha e se come uma cachorro quente. Há também sempre uma banda ao vivo a animar o espaço, sendo que neste Domingo estivemos na presença dos Ras Haitrm & Guerreiros de Sião (está aí um link com uma música deles), uma banda Reggae com grande power que tiveram no Bushfire deste ano. O Bushfire é tipo o Sudoeste cá do sítio, mas como tive as mudanças lá de casa não tive oportunidade de ir. Como é óbvio, não vou falar sobre o festival porque ainda estou chateado por não ter ido… Se alguém quiser saber como é aquilo que pergunte ao Pedro Lagartixo, mas por favor que o faça enquanto eu não tiver presente! Juro que desta vez tirei fotos e até filmei! Mas foi com o telemóvel por isso o resultado iria ser algo do género daquele quadro “Urso preto numa floresta durante a noite cerrada sentado em cima de uma pantera”.

(Link com actuação dos Ras Haitrm - http://www.youtube.com/watch?v=jwPWBURKDgM)

Na Quarta fui ao Autódromo de Maputo (sim, Maputo tem um Autódromo!!!) que mais parece uma pista para motas de todo-o-terreno. Ainda lá, fui convidado para um almoço de Academistas o que me deixou logo muito feliz, apesar de não poder participar.

O resto da semana continuou com tranquilidade, dormir é definitivamente uma cena que não me assiste, experimentei comer Chima que parece um puré mas que é feito de farinha de milho e não sabe nada a puré (já vou por aí um vídeo da sua confecção para se perceber melhor), acompanhado por um bife que dava para alimentar um família de 15 norte-americanos obesos, fomos finalmente jogar futebol onde fui eleito o melhor jogador em campo com a mina equipa a ganhar por 15 a 0 aos coxos da equipa composta pelo Lagartixo, Charles, Rafael e Gonçalo (uma vez mais, é possível que não tenha sido bem assim, mas eu é que estou a contar a história, por isso eu é que sei… Ah e ainda de salientar que a equipa adversária tinha dois ex-jogadores profissionais e um brasileiro!).
Informaram-me ainda que de 2 a 12 de Julho vou andar no mato perdido pela Zambézia (província Moçambicana) acompanhado de pessoas que não conheço. Por um lado é bom pois dá para amealhar uns trocos, para conhecer melhor Moçambique a fundo e sempre tenho uma boa desculpa para não actualizar isto. Por outro lado o não saber se volto com os membros todos ou se não servirem de pitéu para uma tribo de canibais assusta-me um bocadinho.

(Preparação do Chima - http://www.youtube.com/watch?v=tUNWJg9k5w8)

Já a acabar a semana, fui visitar uma instalação da Self numa unidade hoteleira onde estava a selecção de futebol Moçambicana (estive a dois segundos de roubar uma camisola), e ao chegar à sede da empresa fui multado. Porque é que fui multado? Ia em excesso de velocidade? Matei 3 velhotas e um caniche? Ia a conduzir com mais álcool no sangue com o Zé Carlos Pereira em dia de missa? Não… Estava sentado com o carro parado em segunda fila à espera que um sujeito saísse com o carro para eu poder estacionar o meu. Óbvio que me armei em forte, usei todos os argumentos possíveis mas o senhor agente permaneceu irredutível não dizendo uma palavra. Estou em crer que não falava português, pelo menos escreveu “inginheiro” na minha profissão e enganou-se a escrever a matrícula do carro.

E pronto… Mais uma semana repleta de 329 aventuras… Amanhã devemos ir de carro até à praia e aposto que vamos ter de pagar uma taxa especial para molhar o pé direito sem levantar o esquerdo.

Estamos juntos…