Miss me? Não? Já estava à espera… Agora levam comigo à mesma
e pronto. Aliás, eu não era para escrever nada mas a Rita continua a obrigar-me
e esta malta das Amoreiras consegue ser muito persuasiva de punho fechado…
A última entrada no meu blog indica que já cá não vinha
desde 13 de Julho, quando ainda estava pela zona da Zambézia, por isso se
calhar está na hora de actualizar isto. Sim, preparem-se que vem aí mais um
post gigante.
Ora, a minha viagem pela província até correu demasiado
tranquila para quem esteve 13 dias perdido pelo meio do mato. Cheguei no dia 1
de Julho a Quelimane onde fui recebido pelo Eng. Francisco Semente e pelo nosso
motorista Marizane (até hoje ainda não percebi se é nome próprio, se apelido).
A primeira impressão destes dois senhores não foi a melhor,
o Semente com uma constituição física demasiado portentosa destacava-se no meio
da multidão e o Marizane não lhe ficava atrás (se algum elefante se meter pelo caminho
já sei que não vou ter grandes problemas, pensei eu). Contudo, a simpatia
destes dois era directamente proporcional ao tamanho de ambos e levaram-me a
uma pensão onde fizeram o caminho todo em silêncio apesar de todas as minhas
tentativas de fazer “small talk”.
Instalei-me na pensão e decidi ir dar uma volta a pé a
conhecer a cidade. Assim que chego ao centro da cidade senti-me como o Will
Smith no filme “I am legend”, não se via vivalma na rua e ao fim de 20 minutos
a pé já tinha visto a cidade de lés a lés. Dois factos engraçados sobre esta
cidade são os transportes públicos que não passam de rapazes novos a pedalarem
bicicletas de montanha onde as pessoas se sentam atrás e são transportadas pela
módica quantia de 20 meticais (não chega a 1 euro) e uma alusão obsessiva ao
Sporting. Desde Jardins infantis, ao clube local (Sporting Clube de
Quelimane)passando pelo Take Away Sporting. Curiosamente a maioria dos carros
tinham cachecóis do FC Porto.
À noite fui procurar um sítio para poder ver a filme do
campeonato da europa. Encontrei um restaurante/bar chamado de Coconuts onde me
sentei ao lado de um italiano que curiosamente festejava de forma demasiado
efusiva os golos da Espanha… No nosso chitchat ele lá me contou a história da
vida dele, já tinha viajado pelo mundo inteiro, já tinha trabalhado em todos os
continentes (que inveja…), estava há 7 anos em Moçambique e que o país que
menos tinha gostado tinha sido o Sudão onde esteve 5 dias à espera de um
autocarro para poder sair do país.
No dia a seguir fui para as instalações do Ministério de
Energia onde iria começar a trabalhar. O Semente parecia uma pessoa totalmente
diferente, muito sorridente e simpático, não se em parte por o tema futebol ter
ajudado se por estar lá a chefe dele. Ainda não eram 11h e já tinha tido 3
reuniões com as mais altas patentes do Ministério e já tinha atendido 127
telefonemas com as delegações de Maputo (assim é o estágio, diriam os INOV’s).
Lá saímos para o mato e descobri que o Marizane tinha sido
baterista na igreja e que era adepto do Boavista (acho que nem em Portugal
conheço nenhum boavisteiro…). Chegamos a Morrumbala e ficamos hospedados numa
pensão. Voltam os banhos de água fria ou então com um balde de água aquecido em
que tinha de usar a bela da caneca para me banhar… 13 dias nisto…
O resto dos dias foi similar à outra semana que tinha
passado. Comi galinha várias vezes ao dia, confeccionada de todas as formas e
feitios possíveis de imaginar, comi mais pó que uma criança a brincar na areia,
o pessoal fica tão agradecido de cada vez que nós explicava-mos o propósito da
nossa visita que matavam patos e cabritos e nos serviam como almoço.
Apanhamos aldeias de todos os tipos, umas que não eram mais
que uma escola, outras que inexplicavelmente já estavam electrificadas, deparamo-nos
com uma composta por antigos combatentes que nos contavam as histórias mais
sombrias e tristes da altura da guerra. Vi insectos que nunca vi na vida,
bâmbis, javalis, porcos selvagens, cães com fartura e curiosamente, não havia
gatos! O que me fez desconfiar um pouco daquele pato que me serviram numa das
vilas…
Devo referir que do muito pouco que ainda conheço de
Moçambique a Zambézia foi até agora aquela que apresentava as paisagens mais
bonitas… Uma vegetação densao mas rasteira era ocasionalmente acompanhada de
magníficos gigantes rochedos que desbotavam no horizonte mostrando toda a sua
imponência, como quem mostra quem é que manda ali… Assistir a isto numa estrada
em terra batida ao som da bela Zahara (artista Sul-Africana) deu para finalmente
absorver o verdadeiro espírito africano…
O Semente deu uma ajuda enorme das vezes que não estava ao
telefone com uma das mil senhoras que tinha em cada vila e o Marizane conduzia
com uma calma tal que por vezes até me irritava. E a viagem acabou com um
sobressalto… Quando nos queríamos deslocar para uma das últimas vilas decidimos
abastecer. Estávamos já a chegar quando acende uma luz amarela no carro.
Ligamos para a sede e mandam-nos imediatamente para Quelimane para o carro ser
visto. O caminho até Quelimane foi feito a 100 km/h durante 200 kms, 60 km/h
durante 100 kms e os últimos 70 kms a 40 km/h (multados não íamos ser de
certeza), até que mesmo à entrada de Quelimane o carro para. No dia seguinte
descobrimos que nos tinham posto gasóleo misturado com água no depósito…
Moçambique men!!! Moçambique!!!
Passei mais dois dias na magnifica e deserta cidade de
Quelimane sem ter que fazer e cheguei a Maputo numa Sexta por volta da
meia-noite mesmo a tempo de participar no aniversário do amigo Pedro Cardoso lá
nas tasquitas perto de casa.
A semana seguinte foi a tentar recuperar o tempo perdido por
Maputo e voltar a adaptar-me à “civilização” com as incursões aos espaços
habituais CFM, Gil Vicente, Núcleo de Arte, Robsson, tudo locais de pandega e boémia ;)
No fim de semana seguinte fui com o Venes e o Mário até ao
mercado do peixe onde tive, segundo palavras dos próprios, “a melhor tarde de
Maputo”! Fomos até ao mercado do peixe que é um mercado onde podemos escolher o
peixe ou o marisco e levar até umas tascas onde nos preparam o belo do repasto
acompanhado com o que quisermos. Não é um sítio barato, mas pedimos ao senhor
Jacques (condutor de Txopelas aconselhado pela AICEP) a ir connosco e a
ajudar-nos a escolher uma vez que o preço que fazem aos locais não é o mesmo
que fazem aos estrangeiros. Passamos uma tarde a comer camarão, ameijoas, a
beber cerveja a ser interpolados por tudo o que era comerciantes de pulseiras e
bugigangas. No final éramos homens renovados, felizes e obviamente tocados pelo
que decidimos continuar a animação nos botecos (nome dado pelo Cardoso às
tasquinhas lá atrás de casa). Entre vários amigos moçambicanos que fiz
consegui, através do Venes versão fim-de-semana, )acreditem que há grandes
diferenças) conduzir uma txopela… Prevejo grande futuro na arte da condução de
txopelas para mim e para o Venes…
Na Quarta-feira tivemos mais uma sessão de comes e bebes com
o Sr. Presidente da República Cavaco Silva e onde privámos com o Paulito Portas
que não achou muita piada a uma boca que lhe mandei. O nosso presidente chegou
atrasado, discursou e foi embora mais depressa que um alentejano quando ouve
falar em trabalho… Sem ofensa Venes!
E o resto já não sei precisar a cronologia da coisa, mas um
pouco mais do mesmo, trabalho, jantaradas volta e meia, aprendi a nunca mais
voltar a dar o número a pessoal moçambicano que eles ligam mais vezes que o
José Castelo Branco ao Alexandre Frota e tivemos algumas noitadas, não muitas
mãe! Falar nisso, numa dessas noites fomos dançar kizomba ao Macaneta (sim,
tive a dançar kizomba… medo…) e ao Club 21.
Tivemos ainda o jantar de despedida do nosso amigo André que
vai andar 2 meses perdido pelo mato, mas que estou certo que vai adorar aquilo.
Teve direito a vídeo feito pelo Luís e tudo! Depois se me lembrar posto isso no
facebook. Força aí “meu puto!” ;)
E pronto… Acho que foi isso e não me estou a lembrar de mais
nada… hum.. Ah já disse que fui assaltado? Não? Pois bem… Fui… Por 14 capangas
de metralhadora em riste que me encostaram a uma parede e…. Não, agora a sério
um gajo com uma faca que me queria levar o telemóvel mas que após 14 segundos
de negociação ficou-se por 100 meticais. Soube mais tarde que tentou a mesma
proeza com um islâmico mas esqueceu-se de olhar para trás e reparar que não ia
sozinho e que iam mais 7 islâmicos a acompanhá-lo… Conclusão, levou um excerto
de porrada daqueles valentes em que se vai parar a valetas e tudo e foi preso…
Entretanto e não contente com a situação, poucos dias depois eu e o Luciano
fomos abordados por 8 rapazolas também peritos na arte do extorquir dinheiro
mas a coisa resolveu-se quando apareceu um rapaz demasiado grande a serenar as
coisas. Ainda fiquei amigo de dois deles…
Entretanto o pessoal foi visitar a Swazilândia mas eu n fui
e diz que aquilo só presta para comer bifes. Não indo à Swazi, poupei alguns
trocos para ir a África do Sul, mais especificamente Graskop, pouco depois de
Nelspurit. O objectivo da viagem era ir a Nelspurit (que é uma cidade que mais
parece um retail park gigante cheia de shoppings e lojas) às compras que é mais
barato. Mas aproveitamos para conhecer a zona montanhosa ao redor da cidade
composta por várias quedas de água como as Lisbon falls ou as Berlin falls, por
uma composição montanhosa denominada de God’s Window que parece mesmo uma
janela feita por Deus e que por sorte tinha a cortina (nevoeiro) aberta, fomos
ainda ver as three rondavels que são três montanhas que supostamente possuem as
feições de três mulheres mas que infelizmente não conseguimos ver bem por causa
do intenso nevoeiro… Deu, contudo, para tirar umas boas fotos ao pessoal
empoleirado em penhascos, que deu para assustar as raparigas. Fomos ainda
conhecer os Pot Holes onde o pessoal andou durante quase 3 horas a andar a pé
por entre rochas e riachos. É um passeio magnífico que aconselho a quem passar
por esta zona da África Austral.
Entretanto passou mais uma semana, sendo esta um pouco mais
pacata que o dinheiro e a saúde também exigem repouso.
Acho que tinha mais qualquer coisa para contar, mas não me
lembro de mais e isto também já está a ficar comprido.
Logo vou jantar com o senhor Presidente da República de
Moçambique Dr. Armando Guebuza e prevê-se que vou apanhar uma daquelas secas
valentes.
Prometo que vou colocar aqui fotos um dia destes! Anda por
aí um disco externo a rodar de casa em casa com as fotos tuas e depois eu
coloco isso tudo!!
Um beijo, um abraço e um queijo da serra!
Um beijo, um abraço e um queijo da serra!
Estamos juntos, que aliás, é quando estamos melhor! ;)
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